domingo, novembro 29, 2009

Efeitos das conclusões

Estudo, escrevo e crio modestamente.
Bebo o café que está acabando e lembro de la tequila que se findó ontem.
Perco minha lingua que já foi, em tempos outros, tão minha.
Es impossible manter-me distante da selvageria.
Sim! Falo do selvagem que nos é.
Falo da selvageria que nos constitui como somos: latinoamericanos da América Latina.
Não sou de fronteira física/territorial, mas sou de fronteiras mil.
Sou sempre um punto en que algo comienza a se hacer presente.
Busco siempre a palavra errada, visceralmente, busco meu desvio: selvagem.
Sigo no entre-caminho, no não-lugar, constituo-me do que não é ainda ou nunca será
Me atraio pelo que, quixotescamente, pensa que virá a ser
E entrego-me às veias abertas de um nada-rico, que me consome e destrói pouco-a-pouco.
Corro por entre estradas tortas rondeando os corpos deixados de outros que como eu se souberam muitos
E escrevo errado do erro bom que produz um estranho de que não me envergonho.
Escrevo selvagemmente, selváticamente e como melhor me convir.
Escrevo com as visceras enquanto o café acaba, o trabalho exige um fim e a mente só pensa em parar.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Uma noite

Cabeça longe,
                                                             longe...
Lá na tua data
que só é minha de quando em
                                                            quando...
momentos delirantemente oníricos...
te sinto...
te perco...
te re-
                                                           conheço...

domingo, setembro 20, 2009

Chega de rosas

Em uma sexta-feira do mês de abril, Paulo chegou em casa com rosas vermelhas e Flávia o esperava com sua pouca roupa e com seu pouco jeito, mas com o jantar pronto e posto no capricho.
- Chega de rosas, meu amor...
- Mas as rosas são a vida!
- Então, chega de rosas meu amor...
No exato instante em que diz isso, como em um filme barato qualquer, eles entrelaçam as mãos e, entre um arregalar de olhos masculino, um suspiro feminino e uma falta de ar conjunta, os dois corpos caem no chão em um barulho belo e único. Morriam com a sintonia que nunca desfrutaram em vida. Morriam juntos, em um mesmo tombo em mesmo som. Morriam de mãos dadas. Morriam amando. Chega de rosas.

Sinestesia sonambólica

Perdida entre a chuva de luz meio-prata que caía no quarto de parede rubra, a menina pouco-vendo mais espiava a rua amarela. Fechava os olhos pensando assim esquecer do que tentava visceralmente lembrar e doía. Fechava os olhos para não ver as gotas meio-prata que chegavam até seu corpo azulado. Não via, mas sentia tudo: parede rubra, rua amarela, corpo azulado e chuva meio-prata. Ouvia, também, vozes ausentes, pássaros pretos-chatos-noturnos que anunciam o fim dos tempos e a chuva meio-prata e as gotas meio-prata batendo em seu corpo azulado, mas não na rua amarela, pois só chove entre a parede rubra e o armaredo branco. Perdida assim, a menina não sabe o que quer e parece nem querer saber: fechar os olhos e só sentir e ouvir? Abrir os olhos e ver e ouvir? Gritar alto e só ver e sentir? Ouvir, sentir e ver? Não sabe, não quer saber: certezas roxas, assim, doem muito. Sabe bem. Abre a gaveta tímida e rouba de si mesma um cigarro verde. Ascende com o isqueiro rosa o roubado cigarro verde e inala a fumaça doce. Espiando a rua amarela docemente pensa coisas de várias cores e sente gostos diferentes. Pensa que ausência é tempo comum, que voz, assim, ausente é voz comum em tempo comum, mas avesso. Avesso ao desejo daquele que sente a ausência. Pensa que os nomes das cores carregam pigmentos e que fazem muito sentido serem como são. Pensa que gritar para não ouvir é idéia estúpida demais, pois a voz que está fora a girar entre a parede rubra e o armaredo branco e a escapar para a rua amarela também está dentro, cravada em sua cabecinha azulada. Pensa que a chuva meio-prata já deve estar para parar, pois a nuvem muito-prata já se despede. Pensa que se fechar os olhos e ficar só sentindo e ouvindo o tempo comum vai passar mais rápido... quem sabe ela consiga esquecer...

Mais do mesmo querido

Cafés, ausências e silêncio.
Recorro aos mesmos temas.
Eu, tempo, esquecimentos.
Recaio nos mesmos lugares.
Cafés esquecidos no silêncio.
Eu ausente em meu tempo.
Faço dos mesmos lugares recorrentes
aquele sempre-mesmo tema recolhido.

segunda-feira, agosto 31, 2009

Esse acento teu

Troca tua vida
Desondula o acento do teu nome
E, assim, sê tu simplesmente
Tu não vulgar
Tu não ordinário
Tu
Tão somente tu

quarta-feira, agosto 19, 2009

Às anonímias da vida

Sem te (re)conhecer me apresento:
Não tenho cor definida, apelidos ou adjetivos,
Sou apenas comoção e não saber.

Cenários de cruzamentos? –perguntaste
Inúmeros e sempre diversos,
São efêmeros momentos no mesmo verso
Descabidamente, desconhecidamente um momento onírico.

Mal compreendido ou (des)lembrado.
Tudo é passado, tudo é sabido.
O tempo aproxima, em momentos distantes, pessoas distantes
Aproximação, por vezes, dúbia que me afasta

Tanto querer, tanta ausência botam a gente comovido como o diabo...
Não há perguntas certas, não há sequer perguntas
Teus olhos de amêndoas, dessa forma, desconheço
Tua voz, teu nome não desejo.

domingo, agosto 16, 2009

Cruzamento de ex-olhos

Ontem, vi teus olhos e estavam longe de mim.
Meus antigos olhos-avelã.
Tanto sonhei com eles.
Tanto achei que fossem meus.
Ontem passaram por mim, longe...
Se me viram? Sim, sinto que sim.
Me viram e viraram vazio.
E os meus, antes olhos teus, viraram só mistério e cor indefinida para eles...

domingo, maio 31, 2009

O silêncio

Teu nome te diz engraçado
Teu nome te diz abusado
Teu nome te diz ninguém
Teu nome te diz qualquer um
Teu nome te diz mutilado
Teu nome te diz desesperado
Teu nome te diz apaixonado

Teu nome diz tantas coisas
Mas não te traduz em nada
De todas as coisas que teu nome fala
Gosto mais das que ele cala.

domingo, abril 19, 2009

Resgate de um fluxo de inconsciência


Perdido em uma pasta antiga do meu computador... agora tornado público.

Gostaria de mudar tantas coisas... esta porcaria de solidão que agarra os meus desvalorizados pés... esta porcaria de mania de desvalorizar meus próprios pés... gostaria de mudar o mundo... de mudar meu mundo... de mudar a tua pequenês de mundo... gostaria de ter outro rosto... nem falo de um mais bonito, mas de um plenamente diferente que me fizesse ser percebida diferentemente pelo meu mundo, pelo teu mundo e por ti... gostaria de mudar o dia em que nos conhecemos a ponto de torná-lo completamente insignificante para mim e, especialmente, para ti... aquele maldito encontro casual...aquela maldita conspiração do universo... aquela inevitável convergência que me pôs em ti que te pôs em mim (para sempre?)... quando vou esquecer-te? ... quero esquecer teu rosto... quero esquecer tua voz... quero esquecer como era bom te ter ao meu lado... para esquecer tudo isto não posso esquecer justamente do que teimo em não lembrar... de como andávamos mal... mal um com o outro... tristes... infelizes... murchos... por que não lembro?... faz quantos séculos que olhei nos teus olhos e senti aquela dor... aquela dor que dava vontade de suspirar eternamente e chorar... aquela dor que me fez rezar a morte e vivê-la um pouco também... aquela dor que me fez te dizer que acabou... que não dava mais... que doía muito, mas que não podia continuar te fazendo mal... será que me tornei mais egoísta agora?.. já não penso que seria insuportável te fazer mal estando ao teu lado... será que não te faria mais mal?... será que sempre estou errada até quando acerto?... gostaria de mudar tantas coisas... e não consigo... gostaria de mudar esta porcaria de convicção de que não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada e de que, à parte isso, sou um enorme vazio desejoso...

quarta-feira, abril 01, 2009

Desabafoesó



E cansei... sim, agora – mais do que nunca – é definitivo: estou cansada. Absolutamente sem forças e sem vontade de ter forças. Quero somente deitar, dormir e só. Aliás, quero dormir sem sonhar para que nem imaginar que faço algo seja preciso. Esse cansaço não é por fazer muitas coisas ao longo dos dias, mas por querer que muitas aconteçam e, sempre, só conseguir por em prática um décimo – se isso – delas.
Putz, é uma tremenda frustração: ao final da semana olho para o calendário feito no computador em que escrevi tudo que deveria ser feito – sendo sincera: já escrevo menos do que preciso fazer para ver se, ao menos assim, consigo vencer tudo – e lá estão mil listagens que permanecerão sem risquinhos... Sabe-se lá por quanto tempo. Daí começa o segundo drama do não fazer as coisas: redistribuir as mesmas tarefas ao longo da próxima semana que se encerrara da mesma forma que a anterior: mil listagens que permanecerão sem risquinhos... Sabe-se lá por quanto tempo.
No meio de toda a angústia de nunca fazer tudo que devo e quero fazer, sempre tem os “por fora” que surgem só para angustiar mais e deixar tudo ainda mais cansativo. Aí é namorado que reclama por horário na tua vida; é amigo que tu queres visitar e não consegues; é amiga com que tu queres sair, mas os horários não fecham; é mãe que acha alguma forma de ser causa de estresse; é a cadela que late quando tentas resolver alguma questão da tua vida; é gato que deixa a roupa-preta-de-todo-o-dia cheia de pelos; é dia que não dá para almoçar direito, porque nada fica pronto na hora que precisas; etc. São todos os problemas de uma vida em uma semana e, por vezes, em um único dia.
Chego ao final de duas semanas nesse ritmo e o que consigo fazer? Apenas dizer: estou cansada. E o cansaço é tanto que melhor dizer isso para um papel que sei: não irá me perguntar nada, nem motivos, nem possíveis soluções, nem o que pretendo fazer... Absolutamente nada. Então, posso dizer só o que realmente quero e aquilo que minha mão-cansada agüentar: estou cansada.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Nostalgia.

Há nove anos te conheci. Há oito anos escrevi sobre ti. Há um mês achei dentro de um livro uma foto contigo. Há duas semanas rasguei o texto bobo que havia escrito há oito anos. Há dois dias soube da tua morte.

triste... triste assim.

Deixaste saudade quando me deste tuas últimas palavras, deixaste saudade quando eu fiz referências as tuas palavras e agora deixas saudade da mão autora que descansa prematura e profundamente...

Breno, triste partida inesperada...

quinta-feira, janeiro 08, 2009

- Então é isso?
- Acho que sim...
(Silêncio de dor compartilhada. Silêncio molhado).

- Preciso desligar... está doendo...
- Para quem vou ligar para dar boa noite?
- Não sei... eu... não sei...
(Silêncio da dor da idéia da ausência que se aproxima. Silêncio soluçado).

- Tchau...
- Adeus?
- É... acho que é adeus...
(Silêncio de fim. Silêncio e só).
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Foram anos, meses e um instante.

Foram anos de sorrisos, de toques, de desejo, de olhares trocados. Foram anos de corpos confundidos, de companhia, de diálogos. Foram anos que resultaram em meses de vozes alteradas se impondo uma a outra, meses de risos rompidos, meses de olhares mal entendidos, meses de corpos fugindo. Meses que pareciam durar mais do que os anos e, no fim, tudo é silêncio.
No fim, não houve voz inquieta que ousasse falar ou que quisesse se impor. No fim, não houve companhia que permanecesse. Houve a ausência, houve o não haver mais nada. O vazio só preenchido pelo silêncio, pela impossibilidade de qualquer outra coisa que não o silêncio.
A dor dos meses foi pequena: havia mais raiva do que dor. A dor durante o silêncio foi imensa e fez parecer que os anos valiam mais do que os meses e, assim, não mereciam aquele instante: o final.
Nos anos, compartilharam suas vidas. Nos meses, viveram juntos o descompasso. No fim, compartilharam dor e viveram juntos o silêncio.

domingo, janeiro 04, 2009

Um dia


Rabisco papelotes e é somente teu nome que escrevo. Parece não se precisar escrever mais nada. Basta teu nome. Os relógios tiquetaqueiam. Basta teu nome. Som que invade minha cabeça, meu corpo e me faz te querer constante e irritantemente. Basta teu nome. Penso no excesso, na différance, na desconstrução, mas escrevo somente o teu nome. Luto contra o sono, bebo café, canto uma música. Basta, por hoje, teu nome.